E tudo começou ontem... pus o despertador para as 3h da manhã, hora portuguesa, li umas páginas de "Ensaio sobre a cegueira" de Saramago virei o rabo para a lua e adormeci.
Acordei com a música
I only ask of God dos
Outlandish que significa que um novo dia começa e adiei esse momento, tinha outro despertador para 5
min depois. Passados os 5
min de
ronha lá abri os olhos, escuro, levantei-me, calcei os chinelos e tentei não fazer muito barulho para não acordar o
Javi. Arrastei-me até ao espelho da casa-de-banho, ideia infeliz, olheiras até ao umbigo e um cabelo desgrenhado foi a imagem que vi no espelho. Tem de ser! Cozinha: pequeno almoço, quarto: enfiar calças de ganga,
top e camisa, casa-de-banho: lavar os dentes, domar o cabelo rebelde por ter adormecido com ele
húmido,
hall de entrada: último olhar para ver se não faltava nada e lá fui eu. Tinha ligado para um táxi porque não há metro às 4h da manhã, 5h lá. Era o 664. Pedi que esperasse para deitar o lixo fora, entrei e lá consegui dizer "
Al Termibus, por favor". Bilbau sem carros é estranho, estou habituada ao reboliço da cidade, em que para andar 20m demoramos 10
min e comuniquei este meu pensamento ao taxista, A esta hora não costuma haver trânsito, mas daqui a meia hora já volta tudo ao normal, respondeu, Claro, pensei.
Cerca de 3Km = módica quantia de 6,65€ (au! Até dói!), ainda bem que depois o autocarro até ao aeroporto só custa 1,25€.
Às cinco menos vinte já estava a ver a minha vida a andar para trás, Ai que nunca mais chego! Lá cheguei, mais do que a horas, ainda tive tempo de me sentar a ler o meu livrinho e... (agora entra o título) ouvir umas vozes a meu lado a falar português, Bom dia, são portugueses? A minha inocência era clara, foi aquele sentimento de "familiar" ao ouvir a minha língua, que raramente falo. Sim, somos. E pronto, palavra puxa palavra e não tarda nada estávamos a falar do que nos tinha levado a Bilbau, no meu caso o estágio, no caso deles uma conferência. Ai sim? Sobre quê? Maharaji! Fiz o gesto infantil de levantar o polegar como quem diz Mas que raio é isso?, e o senhor, era um casal, perguntou-me qual era a coisa mais importante para mim (perguntas que deviam ser proibidas, pelo menos àquelas horas da manhã), sem saber muito bem o que responder lá disse que o meu sucesso profissional, E como é que o alcança? Trabalhando para isso, respondi. E sem vida conseguiria atingi-lo? Ora bem, pensei, é óbvio que não, mas se não vivesse também não quereria sucesso de tipo algum. Tem razão, respondi. O senhor lá continuou com o seu discurso pró-vida e deu-me um papelzinho com o seguinte:
"Dentro de ti, existe o sentimento mais
espantoso que alguma vez possas imaginar.
Tudo aquilo que procuras, que procuraste toda
a tua vida, esteve sempre dentro de ti.
Quando souberes olhar para dentro,
encontrarás a alegria que sempre desejaste.
É uma dádiva que tens e eu posso mostrar-te uma
maneira de te ligares a ela."
E expliquem-me lá, como é que uma pessoa reage a isto, ein? Ainda por cima eu, que não sou nada dada a espiritualidades. Respeito quem acredita, porque todos temos de acreditar nalguma coisa, mas que não me venham com tretas.
Lá balbuciei qualquer coisa parecida com Às vezes tornamo-nos tão materialistas que nem nos apercebemos disto (seja lá o que "isto" for), e disse que já estavam a entrar pessoas. O senhor respondeu que sim, era verdade, e disse que aquele momento ia marcar a minha vida, que um dia, quando estivesse mais em baixo, me ia lembrar do casal no aeroporto de Bilbau, que me deu um papelinho que nem sequer prestei muita atenção mas que mudou a minha vida. Ora, aqueles que me conhecem sabem da inexistência da minha memória, e estive para lhe dizer Oh senhor, se soubesse a memória de peixe que tenho não dizia essas coisas, mas achei por bem manter, desta vez, a boca calada, era melhor não tentar o destino...
Fim de semana em Portugal, ai que bem sabe!